Fotomontagem
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21 de Setembro – Dia Nacional de Luta das Pessoas Deficientes.
Antes de qualquer coisa, quero dizer que hoje me sinto encorajada a escrever este texto e narrar um pouco da minha intimidade. Nos últimos meses fui tomada por uma força que me fez e me faz querer viver cada dia mais e dizer aos quatro cantos do mundo como venço minhas batalhas diárias, força essa decorrente das conversas com diversos grupos e pessoas na mesma situação: sofro de uma deficiência visual que me acompanha desde a infância. Sou portadora de “baixa visão”. Tenho a doença de Stargardt.
Hoje falo sobre isso com mais tranquilidade, mas antes tinha muita dificuldade devido à insegurança e ao preconceito que me cercavam. Achava que o mundo não iria me aceitar e jamais seria igual às pessoas tidas como “normais”. Graças à minha família (filho, marido, pais e irmãos) e aos amigos mais próximos, atualmente me sinto mais segura para abordar este assunto que me assombrava desde sempre, ou melhor, desde que meu irmão foi diagnosticado aos 17 anos com a mesma deficiência. Nesta época eu tinha 10 anos. Após isso, as visitas ao oftalmologista passaram a ser rotina devido à possibilidade de todos termos a doença na família. Portanto, eu e minha irmã com frequência visitávamos o oftalmologista.
Aos 26 anos foi a minha vez. A doença de Stargardt passara a fazer parte de minha vida. Fiquei estarrecida, em choque! Sabia que não seria fácil e que a qualquer momento minha visão poderia ser gravemente comprometida. Nesta época estava no auge de minha juventude, cheia de vaidades. Meu mundo caiu! Imagina ter convulsões e desmaiar por realizar um “simples exame oftalmológico”, apenas pela ansiedade do exame. Fui tomada por um preconceito, não aceitava aquela situação; porém, sabia que dali adiante tudo seria diferente. Teria que me adaptar a uma nova realidade: a realidade de uma deficiente de baixa visão. Achei que passaria a ser uma pessoa totalmente depende dos outros para quase tudo que fosse fazer. Mas foi diferente: a vida estava sorrindo para mim há muito tempo. Ela sempre me presenteara e eu não havia percebido o valor de uma família maravilhosa.
Casei. Tenho um marido generoso. Hoje sou mãe de um menino com três anos, Augusto é o nome dele. Uma criança incrível. Diria que ele é minha força, uma benção especial com que Deus me presenteou. Meu filho hoje sabe e entende que eu tenho deficiência visual. Muitas vezes ele me leva ao objeto que estou procurando ou o procura para mim. Ele sabe que não pode fugir e se esconder em lugares que a mamãe não conhece. Faço uso de uma lupa para ler e escrever. Quando perco minha lupa quem vai a campo para achá-la? O Augusto. Emociono-me ao falar dele sempre!
Meu marido, desde a descoberta da doença, foi o grande incentivador para que eu enfrentasse este problema, transformando-me para estar diante da sociedade e não escondida dela, seja nas redes sociais ou no dia a dia, assumindo toda esta batalha e as dificuldades que enfrentei e enfrento. Eis um dos episódios que aconteciam com frequência em uma determinada fase das nossas vidas : Ao acompanhar meu esposo em eventos sociais muitas vezes deixava de cumprimentar as pessoas por não enxergar com clareza. Então, ele me disse: – Esqueça a timidez, cumprimente a todos! Passei então a adotar uma nova forma de cumprimentar as pessoas, falando “oi’ até para a estátua do jardim, ao menos, não fico com a imagem de esnobe. Ter baixa deficiência de visão é viver em um mundo sem deficiência aparente, mas com a deficiência. Deficiência não perceptível às demais pessoas, que por vezes chegam a dizer “Você é tão bonita, porque não enxerga?”. Quem me conhece sabe de todas as riquezas de detalhes em tudo que faço, tanto na arrumação da minha casa como no meu trabalho com moda, mas sabem também que tenho que usar outros instrumentos de percepção para isso: lupas, letras maiores, auxilio audível de leitura, etc..
Por fim, quero aclarar a importância da crença em Deus. Ter fé me ajuda — e muito — no meu dia a dia. Principalmente naqueles dias em que a visão fica muito embaraçada. Ter fé hoje é o eixo que me move e faz acreditar em mim mesma e ter a vontade de sempre buscar o melhor.
Talvez você que esteja lendo este texto passe a questionar qual o motivo e a importância deste desabafo nas redes sociais. Há muito tempo desejava escrever sobre isto, para divulgar experiências e informações sobre a doença aos leigos e até mesmo para quem ainda está na fase de aceitação, e o dia de luta – 21 de setembro- pareceu-me adequado. Trata-se de uma doença infanto-juvenil e de difícil diagnóstico. Há casos em que crianças com doença de Stargardt veem-se diante da incompreensão dos amigos, professores e até mesmo dos próprios pais por não entenderem as dificuldades desses pacientes. Você não enxerga adequadamente, mas ninguém nota isso, isso não está claro para seus interlocutores. Se você padece do mal de Stargardt, sente vergonha de se expor à sociedade, procurando esconder a enfermidade. Algo como conversar com outra pessoa, em outra língua que você não domina, mas você faz de conta que entendeu o que foi dito. – Não faça isso! Deixe claro ao seu interlocutor que você “não domina a língua”, que você não enxerga corretamente! Diga isso a ele, sempre, e seja sempre claramente a potencialidade que você é. “DEFICIENTE é aquele que rouba, que mata, que mente. É DEFICIENTE DE CARÁTER”!
E para você que descobriu a doença de Stargardt ou qualquer outra doença, vai a dica: “se a vida lhe der uma dificuldade, crie várias outras oportunidades para se distrair e superar aquela.”

 

4 thoughts on “Depoimento: Angélica Reis Baggio

  1. Lindo depoimento, minha filha de 13 anos tem essa doença. Confesso q sofro mais do q ela, pois penso muito no seu futuro e na sua felicidade. Lendo seu depoimento vejo essa doença não e um empecilho para ser feliz. Bjossss

  2. Olá boa noite!
    Quero deixar meu depoimento aqui.
    Meu nome é José Carlos Ribeiro, sofro com a doença de stargardt eu e mais dois irmãos, até hoje acho que não consegui aceitar totalmente essa situação,
    Por um lado isso me ajudou a crescer. Pois devido a incompreensão da doença não me rendi a ela
    Meu irmão mais velho Sidney se rendeu um pouco mais fácil,
    Ele parou de estudar mas criou uma bela família com sua esposa Miriam eu filho Luiz Miguel de 3 anos hoje uma grande benção.
    Mas vamos lá aos 11 anos comecei a ter sintomas da doença, não conseguia mais ler nos quadros e nada que tivesse letra pequena, sofrimento foi imenso perdi a auto-estima mas com o tempo isso foi se resolvendo em partes. Hoje tenho 30 anos sou empresário tendo cursado cinco períodos de administração de empresas e influenciando os meus dois irmãos mais novos A seguirem o caminho da persistência, não concluí minha faculdade devido à dificuldade com os gráficos que são extremamentes visuais
    insistir em dirigir até duas semanas atrás depois de ter me envolvido em alguns acidentes de trânsito bate fortemente na traseira de um Del Rey tudo apagado na estrada a mais ou menos 6 horas da tard. Alive como estou pondo vidas em risco por não aceitar minha situação de fato, mas talvez isso tenha acontecido para que eu me despertasse para procurar a real satisfação que é a cura dessa doença a fé um milagre que irá usar médicos e cientistas para curar muita gente quero ser agraciado por essa benção
    não sei como entrar em contato com os realizadores dessas pesquisas com cirurgias genéticas mas estou maluco para fazer parte delas.

  3. Olá. Minha filha fpi recentemente diagnosticada com stargardt. Ainda estou a digerir a informação. Pergunta: o meu filho mais novo pode não ter a doença, certo?
    Cumprimentos,
    Ana

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